segunda-feira, 29 de março de 2010

Chão dos gaios

Três gaios e duas pegas disputavam a primazia na hortita do chão das oliveiras e logo que se aproximava alguém estranho, refugiavam-se nos eucaliptos e nas mimosas que da barreira do baldio pendiam sobre a horta, onde andavam a comer e a beber, e tinham uma tira, ao longo do valado, por sua conta.

O Ti’Recas andava consumido com todo aquele rosário de desgraças: ou os gaios e as pegas comiam tudo, ou as árvores que os acoitavam não deixavam vingar nada em quase meia horta. Alguém que por ali passasse tinha de ouvir todo o rol de acusações do velho Recas – era uma desgraça, logo na melhor horta da casa -.

Era tal o desânimo que tudo lhe passava pela cabeça: Chamar alguém, que tivesse uma boa arma e boa pontaria e dar cabo daquela passarada; Convencer o “Trocas”, tido como o melhor gaioleiro das redondezas, a caçar gaios e pegas para vender como aves de estimação; armar, ele próprio, costelas, boízes, ou outros estratagemas, para dar cabo daqueles demónios, cujos prejuízos ia contabilizando enquanto regava a água do açude, nos dias em que lhe pertencia, por partilha.

Da última vez que contou, os pássaros já tinham comido quatro maçarocas completas e começado mais duas; um prejuízo dos diabos, dizia o Ti’Recas, enquanto no meio do milho ia dando cabo dos rebentos dos eucaliptos e das acácias que iam invadindo a propriedade toda. Por mais esterco que para ali carrejasse não havia novidade que vingasse, uma vez que as raízes chupavam todo o chorume e humidade.

Um dia em que aproveitando a boa sombra das árvores, que tanto detestava, fazia a sesta, passou por ali o Ti’Tonho da Azenha que, antecipando-se às lamúrias do compadre Recas, foi dizendo:

Salve-o Deus, compadre. Ainda bem que tem aqui esta sombra tão agradável – não conheço, em toda a nossa ribeira, uma frondosidade assim; bem hajam tais árvores que, infelizmente acabam por lhe comer o chão quase todo, mas…

Ora aí está, salta de lá o Ti’Recas; por um lado esta peste que estende raízes até quase ao outro lado da horta e, por outro, a danada da passarada, que parece não ter milho em mais lado nenhum, fazem a escarpelada sem ser preciso levar o milho para a eira. E uma horta que podia dar milho para comer e vender, nem chega para uma ou duas cozeduras de pão. Mas, compadre, uns e outros vão ver como elas lhe mordem; tenho cá uns planos que darão cabo dos pássaros e sem dar fim às árvores, vão acabar com a mama do bom estrume e água duas vezes por semana.

O Ti’Tonho que sempre gostara de meter a sua colherada, não deixando de juntar veneno, disse que quanto aos pássaros pensava que se arranjasse uns moinhos a fazer barulho e uns bons espantalhos, com uns trastes velhos que acabasse de despir e tivesse o cuidado de não lavar, pois, até chover, teriam fedor suficiente para afugentar vivo que por ali passasse, e muito menos parasse para comer.

Apanhado desprevenido, o Ti’Recas nem pestanejou, mas quanto o compadre se despediu e seguiu ribeira abaixo, começou a digerir as palavras que lhe ouvira: essa do moinho a fazer barulho até está certa, mas a história dos espantalhos com a minha roupa e sem ser lavada… Quem julga o estardalho que é? Se calhar lava-se todos os dias e veste roupa lavada!... Vai ver, quando por cá passar, um fantoche, mas com o retrato dele desenhado no papel da cara – já quando andávamos na mestra ele me dizia que eu tinha muito jeito para fazer bonecos; pois chegou a hora de aplicar a minha habilidade e dar-lhe o troco dos trastes sem ser lavados, e fedendo, lá pendurados.

Quanto às “mais belas árvores de toda a ribeira”, também não há-de perder pela demora: vou mesmo avançar com o meu plano! E é para já, pois gostaria de apanhar as raízes quando estiverem na força do viço, para não me escaparem nenhumas. Em casa arranjou um novelo de baraços que esticou de ponta a ponta da horta, junto à barreira do terreno baldio e começou a cavar uma vala de uns setenta centímetros de largura, espalhando a terra, pelo lado da horta. Continuou a cavar e ao cabo de quase dois meses de trabalho, tinha cortado milhares de raízes que se dirigiam para a horta e a vala estava já mais funda que a altura dele. Já encontrava poucas raízes pelo que acabou por dar a vala como terminada.

Mas veio-lhe uma ideia genial à cabeça: Porque não revestia a vala com paredes – até tinha pedra suficiente ali ao lado – e depois, uns dois ou três palmos abaixo do nível da horta, fazia uma canalização com lajes e ganhava um bom bocado de horta. Pelo cano onde podia andar de pé ia examinando e cortando qualquer raiz que tentasse atravessá-lo e ir buscar chorume ou água à horta. E, se as árvores acabassem por secar, ainda tinha melhor lugar para dormir a sesta: não há fresco que se compare ao que vou ter dentro do túnel! E, com uma porta aqui à entrada até serve de arrecadação.

Com o tempo, as árvores começaram a não comer da horta, a novidade começou a vingar melhor quase até acima do túnel e, os gaios e as pegas acabaram por ser enganados pelo Ti’Recas que escondido no túnel, com acesso por um buraco para baixo de um pé de milho, conseguia disfarçar laços e pegar os três gaios e outras tantas pegas, que fizeram uns bons caldos, para vingar todas as inquietações que haviam originado ao velho Recas.

Uma das lajes acabou por ceder e o buraco não voltou a ser aberto; mas também, nessa altura, já não era preciso o túnel. O filho do Ti’Recas, ao tomar conta da horta, começou por limpar o baldio e, depois de cortar todas as mimosas e arrancar as raízes para que se extinguisse o mais possível a espécie, passou aos dois eucaliptos e cortou-os!... O Ti’Recas, na casa dos noventa e muitos, foi pela última vez ao chão dos gaios e cada machadada nos troncos das árvores não lhe doeram menos que facadas. Pensava ele, de si para si, com as suas recordações:

E eu que cheguei a praguejar contra aquelas duas árvores; dois dos primeiros eucaliptos que se plantaram nas redondezas e, inclusivamente, foram objecto da visita de muita gente, que nunca tinha visto semelhante espécie… Foi meu avô que trouxe as duas plantazitas duma feira da Ponte, embrulhadas numa saca molhada. Nunca soube que estava tão ligado a elas… Dava um braço, ou outra coisa qualquer, para…nunca vi nada na minha vida que mais impressão me causasse… aquelas árvores pelo ar abaixo a estatelarem-se no chão… mas não se curvaram, caíram direitinhas… Caíram direitinhas… Caíram direitinhas… Caíram direitinhas…

Até ao resto dos seus dias, era ouvir o Ti’Recas: Caíram direitinhas… Caíram direitinhas… Caíram direitinhas…

quinta-feira, 18 de março de 2010

O exame

Invariavelmente, entre as duas e meia e as três menos um quarto, sentava-se nas escadinhas de acesso ao terraço do Mercado do Chão do Loureiro, olhava, pausadamente, para as janelas da Escola Nº10, da Costa do Castelo, e, aí pelos cinco minutos para as três, continuava a descer a Calçada Marquês de Tancos, passava ao lado da igreja de S. Cristóvão, descia as escadinhas até à Rua da Madalena e, antes do Poço do Borratém, atravessava a rua e entrava nas escadas dos Armazéns Alfredo Pires Forra, onde trabalhava, na distribuição.

Este homem, na casa dos quarenta anos, de nome Gilberto Ferreira da Costa, era filhote de pai galego e mãe portuguesa, morava no Largo dos Lóios e trazia dois filhos lá na Escola nº10. A mulher, Maria Rosa, trabalhava na copa de um restaurante da Rua Barros Queirós e, como tinha horários mais compatíveis, era ela que mantinha os contactos com a escola, no que respeitava aos filhos.

O director era novo, na idade, na profissão e na escola e tinha substituído um colega que ocupara aquele cargo por dois ou três anos, e sucedera a um velho director que estivera no cargo duas ou três décadas. Havia uma auréola à volta da figura de director da escola, que agora poderia ser de alguma forma esbatida, pelo que muita gente ficou na expectativa de ver o que faria um jovem professor, naquele lugar.

Quanto à identificação do mirone, que todos os dias ficava ali a olhar as janelas, veio a saber-se que o homem era pai de dois alunos de lá, pois na aula de uma das professoras, os alunos viam o homem sentado nas escadas e começavam sempre a dizer: “Carlos Alberto, está além o teu pai!”.

Sobre o homem, propriamente dito, também o director foi abordado pelo Sr. Dias, pessoa muito conceituada ali na zona, membro habitual da Junta de Freguesia e
dono da capelista onde a escola se abastecia de pequenas coisas e muitos alunos
compravam livros, cadernos e outro material escolar. A cantina da escola era obra de uma Associação de Benemerência de que o Sr. Dias era vogal da direcção. Daí os contactos frequentes entre o Sr. Dias e o Director da Escola, pelo que, pode dizer-se, passou a ser uma das poucas pessoas das relações do referido Director.

O senhor Dias, era um beirão de pequena estatura, anafado, de trato simples e muito boas maneiras. Muito querido e estimado no meio. Dizia ele, com muita tristeza nos olhos, que ali, às portas da Mouraria e de muita miséria, havia muitas crianças que tinham de se levantar, pegar nos quatro tostões que estavam ao pé da enxerga e, no maior dos silêncios, sair, passar na padaria a comprar uma carcaça, lavar a cara no chafariz público e dirigir-se para a escola. É que se tinham o azar de acordar a mãe, que, por acaso, tivesse ido dormir a casa, acabavam por chegar à escola cheios de hematomas, ainda a chorar. Não calcula, senhor Director a pena que tenho de muitos destes meninos, que aos sete e oito anos têm de acordar e fazer pela vida, como gente crescida. Ficam ansiosos pela sopa da nossa cantina e veja o que comem!... Alguns pouco mais comem até à noite!...

Vinha depois o senhor cónego do Coleginho, quase no Benformoso e pároco de S. Cristóvão, onde passava a maior parte do tempo. Padre na casa dos setenta, homem muito experimentado e vivido, com largas décadas de África e muitas histórias gravadas na memória; se não estivessem gravadas, conseguiria esquecê-las, assim estão permanentemente presentes, para desconto dos meus pecados. Mas, digo-lhes meus senhores – falando para o vogal da Associação e para o Director da Escola –, comparado com esta miséria social daqui, andei sempre por oásis, para não dizer, pelos arredores do Paraíso.

O extracto social daqueles bairros velhos, donde provinham os alunos da Escola Masculina Nº10, que ocupava todo o piso superior do palácio dos Marqueses de Tancos, com entrada pelo nº 27 da Costa do Castelo, baseava-se em gente humilde que ganhava a vida como varinas, ardinas, vendedeiras ambulantes e com banca nas
praças, moços de fretes, engraxadores, empregados na restauração etc. – gente humilde mas honrada e respeitadora –. Havia, depois, muitas mulheres, em quartos alugados, com filhos de pais incógnitos, vivendo, segundo as palavras dos próprios garotos: “A minha mãe trabalha nas leitarias; entra muito tarde e trabalha até que os clientes querem; às vezes ganha bem e outras, os clientes ainda lhe batem; quando o meu tio vai lá a casa vou dormir em casa da minha vizinha”.

Era assim o ambiente naquela área que compreendia a encosta entre o Castelo de S. Jorge e a Praça da Figueira, desde a Mouraria, passando ali por S. Mamede ao Caldas, parte de Alfama e Castelo, propriamente dito.

Numa das conversas habituais o sr. Dias abordou o problema dos Cursos de Adultos que habitualmente iam fazer exames lá na Escola Nº 10. Sabe sr. Director devo pô-lo ao corrente do que se diz, para que não venha um dia a ter surpresas. É, tenho a certeza absoluta, uma injustiça atribuir aos seus antecessores, actos menos honestos no que se refere a pagamentos para aprovarem alunos em exames de adultos, mas se são as próprias escolas e explicadores que passam a ideia, esta gente acaba por ficar aterrada quando pensa em fazer o exame. Diz-se, sr. Director, que para Carnide, onde por vezes algumas escolas daqui da zona levam os alunos a fazer exame, ainda é onde se conseguem melhores condições – qualquer coisa como quatro ou cinco contos, mais quase outro conto para a carta de exame –. O sr. perdoar-me-á, mas achei por bem dizer-lhe isto; é o que se espalha nas escolas particulares das Escadinhas, da Madalena, de Santa Cruz ao Castelo, etc.

E, aquele homenzinho que todos os dias pode ver ali sentado em frente das suas janelas, é uma dessas vítimas; veio ter comigo a tirar nabos da púcara, tentando saber como irá o sr. trabalhar. Disse-me, inclusivamente que a escola ainda não tinha decidido qual o lugar para ir fazer exame, porque não tinham conseguido informações certas acerca de preços e serviços. E, se não é indiscrição, que lhe disse o sr. Dias, perguntou o Director?

A entrada do sr. cónego Mendes ajudou o sr. Dias, que pareceu aliviado por poder não responder à pergunta do Director. Mas a insistência do Professor, depois de introduzir o padre no assunto, ruborizou, levemente, as faces do capelista que, disse o que pensava: Saibam sr. Director e sr. Cónego, como já lhes disse, não acredito em bruxas…mas que as há, há!... Não conheço o sr. Director, mas tudo farei para o ajudar se estiver no sentido que me parece estar e pelo qual tenho sempre pautado a minha vida e digo-o, na presença do sr. Cónego e meu confessor. E o sr. Cónego, que pensa sobre o assunto, se não levar a mal perguntar-lhe? Faço minhas as palavras do amigo e sr. Dias; pode contar connosco, se quiser a nossa ajuda. E, do pouco que conheço de si, parece-me que vamos todos na mesma e boa direcção.

O Director não pensava abrir o jogo, mas não quis forçar o capelista a adiantar uma resposta a dar ao homenzinho das escadas. A época da entrega dos papéis para as candidaturas a exame aproximava-se, era interessante que na Escola houvesse candidatos suficientes para pelo menos um júri e era necessário atrair inscrições, sem alertar os intermediários que deviam continuar na incerteza. Foi, pois, nessa ponderação que se dirigiu ao padre e ao capelista, fazendo deles emissários e reservando-se, assim, perante as “escolas e explicadores”:

Primeira premissa: nunca cobrei, nem permiti que se cobrasse qualquer verba em exames de adultos. Como devem calcular, pela minha idade, não tenho grande experiência nestas andanças. Todavia, presentemente, a haver número suficiente de candidatos, formar-se-á um ou mais júris de exames de adultos, na nossa Escola. Dadas as minhas funções de Secretário de Zona Escolar e Director da Escola, serei Presidente de Júri. Aqui para nós e sem sair daqui, não permitirei que seja cobrado um único tostão a qualquer candidato a exame, pelo facto de ter ficado aprovado, ou para que lhe seja passado o diploma de exame e respectiva certidão. Uma coisa é, porém fundamental: as escolas não devem fazer a mínima ideia do que vai passar-se, mas, no primeiro dia das provas fica já convidado o sr. Cónego a fazer-se
aparecido lá pela escola e assistir a uma pequena palestra que farei aos alunos, elucidando-os dos direitos que têm a possuir o diploma e da certeza absoluta que ninguém do júri irá receber nada, de ninguém, para que alguém passe no exame.

Até lá, devemos informar os candidatos que o exame deve ser feito na escola da área de residência, que nunca devem dizer, nas escolas, ou aos explicadores, se pagam ou não pagam para ser aprovados e terem o diploma. Que vão sempre deixando para depois dos exames. Todos terão o diploma pelo preço do impresso e do papel selado que irão comprar ao capelista ao fundo da calçada. É muito importante que as escolas e os agiotas sejam apanhados de surpresa. Parece-me que eu não irei falar nada, mas especialmente o sr. Dias, pode, através da Junta de Freguesia, avisar que os candidatos a exame de Adultos devem inscrever-se na Escola da sua residência; são os candidatos que se auto propõem – lá na Escola ajudamos os candidatos. E informá-los de como devem agir perante as escolas, os explicadores e outras pessoas que lhes peçam, seja o que for.

O Sr. Dias, o sr. Cónego e o Director da Escola fizeram, com a maior das discrições, o trabalho de sapa como tinha sido acordado e, conseguiu-se um grupo de vinte e dois candidatos a exame da quarta classe – Adultos.

No primeiro dia de provas, vinte e um de Junho de um dos anos sessenta, apresentaram-se os três membros do Júri – O Director da Escola, na qualidade de presidente, e duas Sras. Professoras, como vogais –. Apareceram na Escola um dos Adjuntos do Director do Distrito Escolar – previamente convidado pelo Director da Escola e Presidente do Júri – e o sr. Cónego Mendes, que na sua qualidade de capelão escolar estava de visita à Escola e, a pedido do Presidente do Júri, se juntou aos presentes e cumprimentou e desejou felicidades aos candidatos.

O Director apenas disse: estão aqui vinte e um candidatos, pois falta um, e esperamos que saibam todos o mínimo para poderem passar no exame. O Júri
ajudará quanto puder, tendo em consideração a vossa situação e podem estar seguros que não têm que pagar nada a ninguém, nem para passar, nem para terem o diploma. Logo que terminem o exame e as pautas sejam afixadas, lá fora, os candidatos aprovados podem descer a rampa, entrar na capelista do sr. Dias e comprar um diploma e o respectivo selo e meia folha de papel selado para a certidão. Ficará tudo aí por vinte escudos. Depois, sou eu, não como presidente do Júri, mas como Secretário de Zona que passo os diplomas e as certidões e o meu trabalho é pago pelo Estado e não por vós. Obrigado aos visitantes pela honra que nos deram com a vossa presença e vamos trabalhar; agora com a porta fechada. Ponham, por favor, o bilhete de identidade em cima da carteira.

Acompanhadas as visitas até à saída da escola, o director voltou à sala, distribuiu o papel e pediu a uma das vogais que lesse o texto do ditado, explicando algumas palavras que iam sendo escritas no quadro. No final, perguntou se estavam todos calmos e se podia ser começado o ditado. Durante a prova os professores foram passando por todos os examinandos e pelo canto do olho, verificando se havia casos graves. Havia um ou dois excessos de erros, mas cada examinando pôde, no final, ressalvar alguma palavra que quisesse. Numa palavra em cuja dicção a Sra. Professora teria sido pouco clara, fizeram-se as ressalvas e só dois erraram.

Na Redacção pediu-se uma pequena história sobre casos da vida profissional de cada um e antes de passar a limpo deu-se uma vista de olhos.

Os Problemas foram lidos e explicados até parecer que estavam perfeitamente ao alcance da maioria dos candidatos e as Contas foram igualmente supervisionadas antes de passadas para as provas.

Corrigidas as provas escritas, foram afixadas as pautas e os resultados não foram tão desanimadores como muitos poderiam esperar: Dezoito candidatos aprovados na prova escrita, iriam fazer provas orais nos dois dias seguintes: nove em cada dia.

Avisava-se, no fim do edital que as provas orais eram públicas, até à limitação da sala e as cartas de exame e certidões dos candidatos aprovados poderiam ser pedidas imediatamente após a saída das pautas, em cada dia, bastando entregar na Secretaria da Escola o impresso para o diploma e o respectivo selo e a meia folha de papel selado para a certidão. Não havia mais nada a pagar, pois o serviço não tinha emolumentos.

Nos dois dias seguintes foram aprovados todos os candidatos que fizeram as provas orais e no final do segundo dia havia quinze pedidos de diplomas e certidões, pelos examinandos e três pedidos pela escola das Escadinhas. No último dia de provas orais esteve na assistência o sr. Cónego Mendes, o Sr. Dias, o Adjunto do Director Escolar e “professores, explicadores e profissionais das escolas particulares que ali tinham candidatado alunos”.

Tudo acabou em bem, a Escola dez passou a ter poucos alunos propostos através das “escolas” e um número razoável resultante de auto-propostos que iam passando ao lado dos serviços das “ditas escolas”. De salientar um Ofício da Direcção Escolar de Lisboa, louvando o Senhor Secretário da 11ª Zona Escolar de Lisboa, pelo trabalho de divulgação e esclarecimento sobre a gratuidade, e a organização, condução e realização de Exames de Adultos, na Escola Primária Masculina Nº10.

O Ofício esteve afixado nas vitrinas da Escola, pelo menos enquanto o Director lá exerceu funções; o homem das escadas fez exame e pôde pagar a carta de condução; o sr. Dias e o sr. Cónego subiram na consideração das gentes do local.