Já decidi e mantenho a convicção de que não vou escrever,
expressamente, sobre “políticos” vivos, ou na vida política activa.
É tão grande a heterogeneidade dos agentes da nossa política
que se torna difícil encontrar padrões classificativos para eles; e há tanta
transversalidade nos princípios político-ideológicos vigentes que se torna
pouco atractivo tratar esta ou aquela personalidade política.
Vão longe os partidos ortodoxos que se pautavam dentro de uma
ideologia rígida e definida e visavam, como é lógico e natural, a luta pelo
poder e a difusão dos ideais doutrinários, ao maior número possível de
simpatizantes e possíveis militantes.
Havia líderes naturais e também quadros arregimentados; havia
gente, talvez apenas políticos quanto bastasse, mas tecnicamente apetrechados
para as mais altas incumbências da governação. Mesmo os partidos com diminutas
possibilidades de chegarem ao governo, preparavam os parlamentares e os seus líderes
para o debate vivo, acalorado e, geralmente bem fundamentado.
As oposições, combativas e construtivas, doutrinavam, como é
evidente, os líderes do mundo operário, as supra-organizações dos
trabalhadores, os movimentos estudantis, as juventudes, etc., mas não se
limitavam às cassetes que hoje maçam, porque não referem nada de concreto,
sustentável e inteligível, à grande maioria dos portugueses, acabando por
produzir efeitos contrários aos visados.
A educação, as carreiras académicas que lhes abriram e o
contexto que lhes foi dado para viver, empurraram as últimas “juventudes” para
a “carreira política”, dadas as evidentes vantagens aí encontradas,
relativamente às possibilidades no mundo do trabalho. Não seria honesto,
considerarmos desonesto aquilo que muitos jovens fizeram, enquanto cresceram e
o que fazem, enquanto consequência e corolário do que fazem.
Os direitos, que são atribuídos aos trabalhadores, são
definidos pelas cúpulas, as acções são dirigidas por quadros, que pouca
interacção têm com os que representam, ou pelo menos, dizem representar.
Como seria natural, este estado de coisas levou a muitos
erros, à participação de muita gente que talvez não tenha tido outra utilidade
para além do voto nas urnas, em dias de eleições. Levou à nomeação de gente
carreirista e impreparada para as funções em que foi investida; não basta
ser-se fiel ao dirigentes do partido e leal aos controladores, é condição “sine
qua non” ser-se competente, trabalhador, honesto e experiente para liderar
equipas que, pela sua essência e finalidade, têm sempre de perseguir a
excelência. Temos o direito de ser governados pelos mais capazes.
Será que os ministros que nos têm governado passariam num
teste apertado de liderança? E os parlamentares, resistiriam a um crivo
apertado de competência técnica e idoneidade moral para representarem o povo,
como tanto apregoam? Estão estes nossos representantes satisfeitos com o
afastamento, cada vez mais evidente e perigoso, dos portugueses que
representam?
Fazem-se análises para tudo. Será possível saber-se quanto
tempo gastou cada parlamentar a falar do futuro e de como irá ser a governação
a curto, médio e longo prazo? Ou, a oposição, a dizer como faria, com que
meios, garantidos com que impostos, aquilo que o governo fez mal?
Mas, tudo isto em linguagem simples, clara e inteligível;
tratados de centos de folhas, ou sites informáticos, NÂO! Quando os portugueses
ouvirem factos concretos e explicações claras, dos seus representantes no
governo e na oposição, saberão escolhê-los.